EVOLUCIONISTA - Luiz de Mattos

Revista Eletrônica do Movimento Evolucionista

2ªEdiçao—outubro de 2010  - Recife—Pernambuco

Remexendo no Baú Racionalista Depois que a Festa Acabou

 

             O ano de 2010 foi um ano de euforia para a cúpula dos racionalistas cristãos e a pergunta que não quer calar e agora novamente se faz é: Qual a mensagem que se pretendeu enviar ao mundo, no ano em que se comemorou o centenário de fundação dessa doutrina, pelo ilustre cidadão português Luiz José de Mattos ?

 

             A hora é de fazer o balanço, para se concluir se houve avanços com resultados positivos que justificassem tais dispêndios de recursos financeiros e energias. Comecemos por indagar! Houve aumento significativo de público esclarecido, na frequência das Reuniões que se realizam nas casas racionalistas, que seria o grande e principal objetivo? Se não houve e se tudo continua no mesmo, como parece continuar, não terá chegado a  hora de serem averiguadas em maior profundidade as causas desse marasmo?

 

             Como subsidio, deixo aqui alguns dos antigos questionamentos que temos feito, sempre irrespondíveis pois continuam à espera que algum dia possam vir a ser analisados e respondidos. Será que a mensagem inicial que o seu fundador pretendeu passar para toda a humanidade está sendo transmitida com base nos mesmos princípios, de liberdade responsabilidade e justiça, sempre em busca da verdade como ele fazia ?

 

             Será que os ensinamentos que Luiz de Mattos recebeu no Centro Espírita Amor e Caridade, em 1910 na cidade de Santos, cujos espíritos guias, eram entre outros, os do padre Antonio Vieira e Custódio José Duarte, com os quais ele assumiu o compromisso de prosseguir na luta pelo desenvolvimento do Espiritismo Racional, Humanista, Cientifico e Cristão, estão tendo continuidade?

 

             Será que abandonar a linha de pensamento de Descartes, Spinoza, Platão, Horácio, Pinheiro Guedes e tantos outros expoentes da espiritualidade, que foram por ele citados, fonte de saber na qual se inspirou e recomendou a leitura de todo manancial de conhecimento contido nessas obras, retirados que foram agora, todos esses nomes do livro básico, isso ajuda na consolidação da doutrina?

 

             Considera-se Luiz de Mattos o Codificador e o seu sucessor Antonio do Nascimento Cottas, o Consolidador. E de facto, administrativamente, no aspecto material o sucessor de Luiz de Mattos foi inimitável.

 

             Porém, sem a consolidação racional e cientifica do seu conjunto, material e espiritual, ético e moral, esse trabalho estará concluído?

 

             Para torná-lo consistente, coerente e claro no seu todo, não se torna indispensável que a doutrina tenha o seu rumo espiritualista racionalmente, bem definido, atualizado em todos os seus aspectos, as exigências do século XXI? Senão: Codificou-se e Consolidou-se o quê?

 

             Quando responderão racional e cientificamente à pergunta que insistentemente é feita e bem simples: O que é finalmente o Racionalismo Cristão? Como justificar as muitas contradições, entre outras, a de continuarem a fazer sessões de Limpeza Psíquica, com comunicações de espíritos e tudo mais, insistindo no uso de artifícios, para não se pronunciar, sequer a palavra, espiritismo?

 

             Não seria mais prudente, inteligente e sensato que ao falar e escrever sobre essa doutrina, houvesse por parte da maioria dos seus dirigentes, menos presunção, mais preparo e domínio da própria língua, maior compromisso com a lógica e a razão, corrigissem os erros e os

preconceitos de linguagem, visíveis a qualquer leigo? Sem isso, o risco dessas mazelas ficarem cada vez mais expostas, como aconteceu em 2010 com a maior divulgação desse movimento, caracterizando-se numa falsa propaganda, ou propaganda ao contrário, esse risco existe e é verdadeiro. 

 

             E assim como fica a “doutrina da verdade” e o nome do seu Ilustre fundador, Luiz de Mattos? E a Verdadeira História do Racionalismo Cristão, quando será escrita ?

 

             Durante os primeiros 93 anos de fundação dessa doutrina, Angelo Ferreira da Silva e Luiz Lopes Farinha, doaram 53 de suas proveitosas vidas, ao serviço dessa Causa. Compraram o terreno e reformaram a casa que nele existia na Av. Dr. José Rufino,952, que passou a servir de  Sede provisória da Filial do RC de Recife e depois no mesmo local, quase 20 anos depois, também ajudaram a construír a Nova Sede que foi inaugurada por Antonio Cottas e sua comitiva em 18 de março de 1973. 

 

             Os dois juntos tiraram do próprio bolso, aproximadamente cinqüenta por cento do valor total dessa obra, o que ainda pode ser comprovado com documentos insofismáveis. Na condição de Presidente e Tesoureiro respectivamente, durante 34 anos também cuidaram de sua manutenção até o mês de julho de 2003, quando se retiraram inconformados, depois de uma longa espera de mais de 20 anos pelas promessas iniciais, nunca cumpridas, de dar um novo rumo ao RC, feitas antes e depois de sua posse, pelo Dr. Humberto Machado Rodrigues.

 

              Por tudo que observaram e observam ainda com saúde e raciocínio lúcido, não acreditam mais que um dia essa história seja verdadeiramente contada. E se for, por falta de memória e de registros, confiáveis, quase sempre descartados, dificilmente fará justiça, com reconhecimento pelo que fizeram, os seus mais autênticos, verdadeiros, abnegados e leais servidores.

 

             O registro acima não visa nenhum agradecimento ou indenização por tudo que ambos fizeram espontaneamente, apenas para provar o que afirmam. Quem tiver ainda qualquer dúvida, leia o discurso feito pelo atual Presidente da Filial de Recife, quando comemorou o 38º. Aniversário dessa nova Sede, junto com os 76 anos da existência desse núcleo racionalista em Recife, iniciado por Gregório Caldas em 1935 e comemorado em 19 de março de 2011 e publicado no jornal “A RAZÃO” edição de Maio de 2011.

 

             Afirmam que tudo que acontece no RC é feito com autorização e determinação do Alto. Nós também pensávamos assim, até ficarmos sabendo que todas as comunicações do A.S. gravadas, em fitas kassete, antes de se tornarem públicas, eram revistas, passavam pelo crivo da censura, presidencial e ninguém mais tinha acesso ao verdadeiro conteúdo da fita. Informações privilegiadas, que então recebíamos, de fonte fidedigna. O mesmo aconteceu com a fita gravada quando Antonio Cottas em sua primeira comunicação espiritual, fala do seu sucessor. A fita desapareceu, sobrou apenas o que foi datilografado. Diante de tantas manipulações absurdas, por nós constatadas, reservamo-nos no direito de não acreditar mais nessas pessoas. Pelo visto, para o Senhor Francisco Ivo, desde sua fundação, só existiu Gregório Caldas e ele, como Presidentes daquela Casa, o que nos obriga a refrescar sua memória dizendo-lhe o seguinte: Não há grandeza de espírito na ingratidão e na injustiça e nem a omissão dignifica qualquer dirigente, ou presidente.

 

             Não se poderá olvidar ou simplesmente pretender apagar o trabalho feito durante 20 anos por Sebastião Camelo de Araujo em condições precárias, quando o Correspondente teve vários endereços e que aos 92 anos ainda está vivo, e já escreveu essa e outras histórias.

 

Será por ele ter cometido alguns erros familiares, que ele mesmo reconhece e escrito vários artigos criticando as mesmas falhas e desvios que ainda hoje se observam nos meios racionalistas cristãos, que se pretende ignorá-lo, como se nunca existisse?

Se se pretende ignorar essas duas gestões a de Sebastião Camelo de Araujo e a do seu sucessor Angelo Ferreira da Silva que juntas somam 54 anos de presidência, numa Instituição que apenas existe nesta cidade, há 76, não deixa de ser um grande equivoco, ou uma visão

acanhada de contexto.

 

Com essa atitude embora mesquinha o Senhor Major Francisco Ivo de Oliveira atual presidente do RC de Recife, apenas endossa tudo o que os seus dois antecessores Presidentes, tem escrito. Reconhecemos que ele não tem outra saída, senão continuar agindo assim, se quiser continuar Presidente, nas boas graças dos seus Chefes perpétuos e assim poder ver os seus pronunciamentos divulgados no jornal “A RAZÂO”, obriga-se a esquecer todos os elementares princípios de justiça, independência, gratidão, honestidade e ética. Por não suportarem mais viver hipocritamente, ao serviço de uma causa que em nome de Luiz de Mattos, da justiça, da dignidade e da moral, despreza todos estes valores, Angelo Ferreira da Silva e Luiz Lopes Farinha optaram entre permanecerem num ambiente de falsidade, hipocrisia e bajulação ou continuar obedecendo as suas próprias consciências, mantendo-se sempre, na vertical, sendo justos, honestos e livres, sem medo e sem ódio, por saberem, que cada um receberá sempre na medida exata de seu merecimento.

 

Fácil seria continuar sendo bafejados com as cortesias do chefe supremo, bastaria não contrariá-lo em nenhuma de suas decisões, aplaudi-lo sempre em todos os seus supostos projetos, apoiá-lo incondicionalmente em tudo que fazia, como sempre foi o seu desejo e durante muito tempo isso fizemos, na esperança que um dia algo mais proveitoso, fosse concretizado em beneficio da doutrina, conforme reiteradas promessas que fazia.

 

Uma doutrina que nasceu para servir toda a humanidade com base em fundamentos universais, verdadeiros, contenta-se hoje em estar a serviço dos interesses pessoais de uns poucos, numa determinada e limitada região. Isto não pode ser Obra do Alto.

 

A semelhança do coronelismo da política brasileira que predominou no Brasil, desde o tempo do Império até a era de Fernando Henrique Cardoso, que concentrava todo interesse de desenvolvimento econômico, nas regiões do centro, do sul e sudeste brasileiros, mantendo todo o resto do território, como verdadeiros bolsões de atraso .

 

É nesse espaço reduzido em relação ao mundo, que o RC se torna algo conhecido de uma pequena parcela da população e serve os interesses dos dirigentes que se mantiverem nas boas graças do Poder Central. Administra-se um patrimônio que pertence à humanidade, como se fora herança familiar.

 

Fora desse eixo, pergunte a qualquer aluno de qualquer escola das milhares que existem em todo o Brasil, e nenhum deles, certamente, saberá responder se lhe perguntarem, quem foi Luiz de Mattos. Este é o quadro da “Doutrina da Verdade”, que segundo a maioria dos seus dirigentes, mais capacitados e preparados: “ A Humanidade é que ainda não está preparada, para entender sua mensagem”. E por tudo que o RC fez durante 100 anos, quando estará? No principio da doutrina, para se ingressar como militante dela, especialmente para ser médium e Presidente de um núcleo racionalista, o candidato passava por uma investigação minuciosa e sigilosa e precisava dar provas de sua idoneidade, capacidade e competência, para o exercício do encargo. Há muito que tudo isso mudou, o que importa é estar sempre de acordo com a chefia, acatar todas as ordens que venham de cima, mesmo que não sejam do Alto.

 

O meu grande abraço a todos, de quem teve a coragem de não desobedecer a sua consciência, não permanecendo silenciosamente conivente com essas imposições, preferindo a liberdade, com responsabilidade , obrigação e independência para externar o que pensa e ainda gostaria de ver o RC cumprir o seu papel de um dos mais bem preparados órgãos orientadores espirituais do mundo, conforme era o seu projeto inicial, arquitetado por Luiz de Mattos. Recife, maio de 2011. Angelo Ferreira da Silva

 

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